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segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Portugal 2013

Portugal é um país e uma nação com mais de oito séculos cuja história evidencia tanto de potencial quanto de paradoxal, numa dualidade que tem sido a chave dum inconformismo genético vital para a sua consolidação e sobrevivência.

Um dos paradoxos emergentes que caracterizam o debate actual sobre o nosso futuro colectivo é o paradoxo da narrativa ou da visão mobilizadora. Quando alguém ousa propor uma abordagem pragmática de intervenção nos diversos eixos de modernização do país sujeita-se de imediato à crítica duma suposta ausência de estratégia e de visão, como se fosse possível a acção consistente sem foco agregador. Em contraponto, quando alguém se aventura na explicitação da estratégia e na elaboração da visão, sujeita-se a ser de imediato apelidado de teórico, inconsistente e dissimulador das dificuldades e desafios do quotidiano.

Este paradoxo tem uma explicação histórica que parece medianamente óbvia. Portugal sempre abusou do messianismo para ultrapassar momentos complexos e recorreu à memória das dificuldades para não se inscrever com determinação nos momentos de forte oportunidade.

A evolução recente da sociedade global criou de novo um campo fértil para o paradoxo. Após o ciclo da sociedade industrial, complexo e difícil para um pequeno país periférico, sem matérias-primas nem mercados de proximidade, o mundo entrou num novo ciclo de globalização acelerada, em que uma nação-rede como Portugal não tem desculpa para falhar, mas pode falhar se não conseguir uma conjugação adequada entre políticas e percepções, capaz de gerar confiança, compromisso e envolvimento de toda a sociedade perante o desafio da mudança.

Este texto é um exercício simples que visa dar um contributo pragmático para a redução do paradoxo. Se as medidas de modernização em curso no contexto da aplicação em Portugal da Agenda de Lisboa e do Plano Tecnológico e determinantes no desenho do Quadro Estratégico de Referência Nacional (QREN) continuarem a mobilizar a sociedade portuguesa e tiverem o impacto esperado, como será Portugal em 2013?

Um país não muda radicalmente em cinco anos. Este exercício sublinha tendências e oportunidades de bifurcação disruptiva e não reinvenções impossíveis e indesejáveis. O que aqui se esboça não surgirá por milagre nem por simples vontade política. Estamos na fronteira do possível, e a concretização do possível depende do esforço conjugado de todos nós. A razão do meu optimismo é a confiança nos portugueses e na sua capacidade de surpreender, quando apoiados por políticas públicas ousadas, focadas na qualificação e com foco estratégico partilhado.

Em 2013, Portugal terá consolidado três âncoras estratégicas que permitirão alavancar toda a sua economia para um nível mais elevado nas cadeias de valor da economia global.

Será, em primeiro lugar, um "nearshore" global, ou seja um território-pivôt na intermediação de serviços altamente sofisticados entre os grandes centros tecnológicos e os centros para onde vão continuar a deslocalizar-se as funções de mais baixo valor. As recentes decisões de investimento neste domínio por parte de empresas tão significativas como a Nokia - Siemens, a Cisco ou a Fujitsu confirmam e reafirmam a tendência e reforçam a subida do país na cadeia de valor, tendo em conta que se trata de investimento conquistado em luta renhida com outros "nearshores" de referência como a Irlanda e a Holanda.

Em segundo lugar, será um território de inovação no domínio do turismo de nova geração, da logística e das energias renováveis. O défice de criação de riqueza resultante da produção de bens transaccionáveis tem caracterizado desde sempre a nossa economia. A tripla aposta nestas três dimensões de valorização do território permitirá extrair valor de factores intangíveis como a identidade, a segurança, o clima e a localização geoestratégica.

Em terceiro lugar, Portugal confirmar-se-á como um mercado teste para as novas soluções e produtos para o mercado mundial, atraindo cada vez mais empresas nos domínios científicos e tecnológicos emergentes e dando um novo fôlego às empresas portuguesas que, no domínio das novas tecnologias e da sua aplicação aos sectores económicos tradicionais ou aos serviços aos cidadãos, têm vindo a conquistar nichos de mercado significativo e prestígio global.

Não temos um mercado de proximidade com dimensão para dar por si só sustentabilidade às novas cadeias de valor no domínio da biotecnologia, da nanotecnologia, das tecnologias da informação e da comunicação ou da reinvenção dos sectores tradicionais pela incorporação destas tecnologias, mas temos condições excepcionais de criatividade, adaptabilidade e velocidade de adopção e incorporação de novas soluções, para sermos um nó crítico da rede que constituirá a matriz do mercado mundial.

Portugal 2013 será um nó da rede vencedora na nova economia emergente. Sabemos o enorme esforço que isso implica. Um esforço de qualificação das pessoas, das empresas e dos territórios e um esforço de mudança de atitude e de assunção do risco e da iniciativa.

Não é garantido que o cenário que aqui tracei se verifique. Os tempos estão difíceis para a prospectiva em economia e desenvolvimento. Garantido é que as políticas públicas estão focadas neste objectivo e este cenário é possível, dependendo da capacidade de cada português acreditar, aprender para agir e empreender para criar valor e ajudar o país a vencer.

Fonte: Carlos Zorrinho - Coordenador Nacional da Estratégia de Lisboa e do Plano Tecnológico, JN, 14 de Março de 2008